A Shein, gigante chinesa de compras online, se viu no centro de uma tempestade de críticas após organizar uma excursão para um grupo de influenciadores e criadores de moda americanos visitarem uma fábrica modelo na China. Os influenciadores publicaram avaliações entusiasmadas sobre sua experiência, mas os usuários das redes sociais rapidamente expressaram sua raiva e decepção.
A Shein, assim como outras empresas chinesas, enfrentou várias preocupações em relação às suas práticas comerciais. Questionamentos foram feitos sobre como a empresa consegue vender mercadorias a preços tão baixos, sua transparência em relação às práticas trabalhistas e o impacto ambiental de suas operações.
Em meados de junho, os influenciadores embarcaram em uma viagem a Guangzhou, uma megacidade do sul da China, para visitar o “centro de inovação” da Shein. A instalação apresentava cortadoras de tecido avançadas e robôs para transporte de materiais, com trabalhadores sorrindo e confeccionando roupas enquanto os visitantes percorriam a fábrica. Alguns influenciadores até experimentaram várias tarefas.
Uma das influenciadoras, Kenya Freeman, uma estilista que já vendeu roupas na Shein, compartilhou vídeos de sua viagem no Instagram. No entanto, a resposta foi esmagadoramente negativa, com comentaristas criticando os influenciadores por não entenderem os supostos abusos aos direitos humanos e as consequências ambientais associadas à moda rápida. As pessoas questionaram por que os influenciadores se aliariam a uma empresa acusada de valores antiéticos. A reação negativa afetou a saúde mental de Freeman, que enfrentou uma quantidade sem precedentes de ódio online.
Freeman, que colabora com a Shein desde 2019, argumentou que a gigante da moda rápida tem sido uma tábua de salvação para pequenas empresas, especialmente aquelas fundadas por comunidades marginalizadas. Ela enfatizou que não estava defendendo a empresa nem sendo responsável por suas ações.
A Shein defendeu a viagem e os vídeos dos influenciadores, afirmando que estava comprometida com a transparência. A empresa afirmou que a visita ao centro de inovação ofereceu uma oportunidade para os influenciadores entenderem como a Shein opera e compartilharem suas percepções com seus seguidores.
A ascensão da Shein à popularidade, especialmente entre a geração Z, tem despertado um escrutínio crescente, principalmente à medida que as tensões entre os Estados Unidos e a China se intensificam. Em abril, uma comissão do Congresso dos Estados Unidos levantou preocupações sobre as possíveis conexões da Shein com trabalho forçado, brechas comerciais, riscos de segurança do produto e roubo de propriedade intelectual. Legisladores instaram a Comissão de Valores Mobiliários e Câmbio a exigir da Shein uma certificação de que seus produtos não são fabricados com trabalho forçado do grupo étnico uigur, uma minoria predominantemente muçulmana na China que enfrenta ampla condenação por seu tratamento.
Dani Carbonari, uma influenciadora e modelo plus-size que participou da viagem, postou no Instagram explicando sua decisão de se juntar ao passeio. Ela mencionou abordar “rumores” em torno da Shein, mas posteriormente excluiu uma postagem anterior em que elogiava os esforços da empresa para melhorar. Sentimentos semelhantes foram expressos por outros influenciadores na viagem, com alguns afirmando terem conversado com trabalhadores da fábrica e ficado impressionados com as condições.
Além das preocupações trabalhistas, a Shein também enfrentou críticas por suas práticas de sustentabilidade. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente relata que cerca de 85% das roupas acabam em aterros sanitários ou são queimadas. Especialistas argumentam que a moda barata e de baixa qualidade agrava o problema.
A Shein sustenta que seu modelo de negócio ajuda a reduzir o desperdício e a superprodução, produzindo lotes pequenos. Alega encomendar lotes maiores apenas se houver demanda demonstrada. A empresa estabeleceu uma meta de reduzir as emissões em 25% até 2030, com base nos números de 2021.
Kelly Kellen, professora associada de marketing, ressaltou a importância da transparência, mesmo ao direcionar a geração Z por meio de influenciadores. Os consumidores da geração Z estão cada vez mais examinando as marcas e buscando compreender sua finalidade e valores.
A viagem da Shein à China para influenciadores americanos não apenas gerou indignação, mas também destacou a necessidade de transparência e considerações éticas na indústria da moda, principalmente à medida que as preocupações com as práticas trabalhistas e o impacto ambiental continuam a atrair atenção.