Nos últimos anos, a Espanha se tornou palco de um fenômeno peculiar e preocupante: as orcas colidindo repetidamente com barcos em suas águas. Marinheiros e especialistas estão perplexos e preocupados com o que leva esses mamíferos marinhos a exibir um comportamento tão agressivo. O experiente capitão Daniel Kriz teve dois encontros próximos com orcas, deixando-o com um sentimento de inquietação e curiosidade.
Os Encontros Surpreendentes: Durante sua viagem mais recente pelo Estreito de Gibraltar em abril, Kriz ficou surpreso ao avistar um par de orcas debaixo de seu barco. Esse foi seu segundo encontro desse tipo em três anos, depois que um grupo de orcas cercou e desativou seu barco em 2020. Os juvenis responsáveis pelo incidente recente arrancaram o leme, enquanto as orcas adultas pareciam estar monitorando a ação.
Aumento dos Incidentes: A experiência de Kriz não é um caso isolado. Nos últimos três anos, o Estreito de Gibraltar se tornou um ponto de encontro entre orcas e barcos. Essas interações, envolvendo aproximadamente 15 orcas individuais, resultaram no naufrágio de três embarcações e na desativação de várias outras. Mónica González, bióloga marinha do CEMMA, uma organização que coleta dados sobre orcas no estreito, relata que houve mais de 500 interações entre orcas e barcos.
As Teorias: Embora as razões exatas por trás dessas interações ainda não estejam claras, os especialistas apresentaram duas teorias. A primeira sugere que as orcas podem estar envolvidas em comportamentos lúdicos, enquanto a segunda propõe que um incidente aversivo envolvendo uma das baleias possa tê-las levado a intervir e evitar ocorrências semelhantes no futuro. As motivações por trás das ações das orcas ainda precisam ser definitivamente determinadas.
Pistas e Padrões: Pesquisas realizadas sobre os ataques revelam alguns padrões. Os encontros geralmente ocorrem durante o dia, principalmente ao meio-dia, e duram de meia hora a duas horas. As orcas se aproximam silenciosamente dos barcos, nadando por baixo e tocando-os levemente. Em casos extremos, elas atacam o leme, fazendo com que o barco gire ou pare completamente. Indícios sugerem que uma orca fêmea chamada White Gladis, possivelmente enroscada em equipamentos de pesca, pode ter sido a catalisadora dessas interações. Acredita-se que o comportamento tenha sido aprendido e imitado por outros juvenis do grupo.
Natureza Lúdica ou Aversão: Os biólogos marinhos estão divididos quanto a se as ações das orcas são resultado de brincadeiras ou aversão. Enquanto alguns acreditam que as orcas acham divertido manipular o leme e observar as consequências, outros sugerem que o comportamento pode ser uma tentativa de evitar uma ameaça percebida. Independentemente disso, não há evidências de que as baleias tenham a intenção de prejudicar humanos durante esses encontros.
A Crescente Preocupação: A frequência das interações entre as orcas e os barcos parece estar aumentando. Embora os encontros atinjam um pico sazonal de 20 a 25 por mês durante o verão, quando os atuns-rabilhos, uma presa fundamental das orcas, estão presentes no estreito, ainda não se sabe se essa tendência se manterá ao longo da temporada.
Preservando as Orcas: Recomenda-se que os barcos que cruzam o Estreito de Gibraltar fiquem informados sobre os pontos de maior atividade e tomem precauções para minimizar as interações. Recomendações oficiais sugerem desligar o motor ou baixar as velas para parecerem desinteressantes para as orcas durante um encontro. É vital priorizar a conservação dessa subpopulação de orcas criticamente ameaçada, em vez de recorrer a métodos prejudiciais ou perigosos para afastá-las.
Conclusão: Enquanto os marinheiros continuam a navegar nas águas próximas à Espanha, o comportamento enigmático das orcas continua sendo motivo de fascinação e preocupação. Enquanto os pesquisadores se esforçam para desvendar o mistério por trás dessas interações, é crucial lembrar que compartilhamos os oceanos com essas criaturas majestosas. Promover a conservação delas e encontrar maneiras de coexistir pacificamente deve ser uma prioridade para todos que as encontram em seu habitat natural.