O A380, que esteve à beira da extinção, está vivendo um surpreendente retorno. Apesar dos desafios enfrentados, incluindo o impacto da pandemia e seus altos custos operacionais, uma nova companhia aérea está apostando no superjumbo e construindo toda a sua frota em torno dele. A Global Airlines, uma startup britânica prestes a lançar voos transatlânticos no próximo ano, adquiriu um A380 com 16 anos como sua aeronave inaugural e planeja reformá-lo de acordo com suas próprias especificações.
A decisão de focar no A380 é incomum, considerando as dificuldades que muitas companhias aéreas têm enfrentado ao operar a aeronave de forma lucrativa. No entanto, o CEO da Global Airlines, James Asquith, acredita no potencial do A380 quando usado estrategicamente. “É uma aeronave fantástica quando você a utiliza da maneira certa e nas rotas certas”, afirma. A companhia aérea pretende investir pesadamente na reforma do A380 adquirido e planeja trazer mais desses superjumbos para sua frota no futuro.
O A380 adquirido, originalmente entregue à Singapore Airlines em 2008, teve uma jornada interessante. Depois de ser arrendado por várias companhias aéreas, acabou aguardando um comprador nos aeroportos franceses de Toulouse e Lourdes. A Airbus construiu um total de 251 A380s, significativamente menos do que a meta inicial de 750, e a aposentadoria desse modelo chegou mais cedo do que o esperado. No entanto, a Global Airlines vê potencial na aeronave e é a primeira nova companhia aérea a operar o A380 desde a All Nippon Airways em 2019, além de ser a primeira a fazê-lo com uma aeronave usada.
Embora o preço exato da venda não tenha sido divulgado, foi confirmado que está na faixa de “oito dígitos”. O valor da aeronave depende de sua condição de manutenção, variando de tão baixo quanto US$ 10 milhões para uma aeronave totalmente desgastada até US$ 40 milhões para uma em perfeito estado. Após a reforma, o custo total para a Global Airlines pode chegar facilmente a cerca de US$ 50 milhões, um desconto significativo em relação ao preço de lista do A380, de US$ 450 milhões para uma aeronave nova.
A Global Airlines pretende oferecer uma cabine de três classes, com classe econômica regular, executiva e primeira classe. Ao contrário de algumas outras companhias aéreas, a empresa não terá uma classe econômica premium, pois Asquith acredita que a economia dessa classe favorece mais as companhias aéreas do que os passageiros. O foco será em oferecer um produto de alta qualidade no trajeto transatlântico, com atenção especial para melhorar a experiência na classe econômica. A companhia aérea planeja operar a partir do aeroporto de Gatwick, em Londres, inicialmente atendendo rotas transatlânticas para Nova York e Los Angeles, com expansão futura para outras cidades do Reino Unido.
Enquanto analistas expressam ceticismo sobre a viabilidade de uma companhia aérea focada no A380, citando os desafios enfrentados por startups anteriores, Asquith permanece confiante. Ele acredita que a combinação única de fatores da Global Airlines, incluindo a escolha da aeronave, pessoal e uma oferta de produto sólida, posiciona a companhia aérea para o sucesso. Asquith reconhece os críticos, mas enfatiza a demanda por voar em um A380 e acredita que preencher a aeronave com cerca de 65% de sua capacidade será suficiente.
O A380 continua a desfrutar de um constante retorno pós-pandemia, com 141 A380s atualmente em serviço em nove companhias aéreas. A Lufthansa reintegrou recentemente o A380 em sua programação, e a aeronave está ganhando atenção e popularidade entre os passageiros. A Global Airlines espera aproveitar essa demanda e criar um produto melhor e mais competição na indústria.
Apesar dos desafios e dúvidas, a Global Airlines está determinada a provar que uma frota totalmente composta por A380 pode prosperar. Como Asquith coloca, “Estamos fazendo isso para criar empregos, criar concorrência e um produto melhor. Por que as pessoas não iriam querer isso?” Somente o tempo dirá se essa empreitada ambiciosa decolará e redefinirá o futuro da aviação comercial.